Dr. José Fernandes Mascarenhas (1909 - 2005)
Filho único de José Pedro Mascarenhas e de Elisa Mariana Pires, nascido em Moncarapacho, a 9 de Abril de 1909, na aurora do século XX, José Fernandes Mascarenhas revelou cedo alguns traços que irão delinear a sua personalidade:
- a fé católica que inspirou e moldou de modo impressivo cada um dos seus atos;
- a paixão pela História e pela investigação;
- o entusiasmo e a dedicação com que abraçou os projetos e causas que, no seu entender, melhor serviam o seu país ou a sua terra natal.
Os anos da juventude
Ainda jovem, estudante no Liceu João de Deus, em Faro, fundou e animou, com alguns colegas, as primeiras organizações católicas juvenis na diocese do Algarve. Em 1928, integrou a comissão que, na sua terra natal, promoveu a restauração da capela de Santo Cristo. Em 1930, foi cofundador, com Antero Nobre e Miguel Eusébio Sousa, do quinzenário «A Nossa Aldeia», o primeiro jornal que se publicou em Moncarapacho. Alguns anos depois, acompanhou como guia o eminente etnólogo e arqueólogo Dr. José Leite de Vasconcelos, quando este, nos seus trabalhos de pesquisa, visitou a freguesia de Moncarapacho.
Concluídos os estudos secundários e depois de frequentar, durante algum tempo, o Curso de Medicina Veterinária, em Lisboa, empregou-se na então Direção Geral de Estatística, cujo 2quadro pessoal passou a integrar a partir de 1935.
Do apostolado católico à investigação
Em 1942-43, durante o serviço militar, em Lagos e, depois, em Lisboa, impulsionou a criação de movimentos de apostolado católico no seio do Exército, nomeadamente «A Obra dos Soldados», de wque foi fundador e dirigente nacional, durante vários anos, e cujos estatutos redigiu. No campo religiosos, promoveu ainda a restauração do Nicho de S. Gonçalo de Lagos, nesta cidade, e a fundação do Grupo de Estudos Gonçalinos, iniciativas que culminaram, em 1961, com as Comemorações do VI Centenário do Nascimento deste santo e a realização do I Congresso Gonçalino, nos quais teve participação activa.
No plano político, foi cofundador, em 1934, da Casa do Povo de Moncarapacho e empenhou-se, através da escrita e de conferências, na defesa do Corporativismo e do Estado Novo.
Apaixonado desde novo pela História e Arqueologia, dedicou à investigação uma parte importante do seu labor quotidiano. Da vasta bibliografia publicada desde então, em livros e em jornais, constam várias dezenas de trabalhos, na sua maioria sobre temas algarvios ou relacionados com a sua terra natal.
Durante o período em que viveu em Lisboa, foi admitido como sócio em várias instituições científicas e culturais e integrou, por várias vezes os corpos gerentes da Casa do Algarve, nesta cidade. Ao mesmo tempo, frequentou como aluno voluntário o Curso Económico-Financeiras.
O interesse pela Arqueologia leva-o a reunir, ao longo dos anos, um vasto espólio que, mais tarde, legou ao Museu Paroquial de Moncarapacho, de que foi cofundador, com o Padre Isidoro Domingues da Silva.
Em Moçambique
Concluída a Licenciatura, foi nomeado, em 1963, Adjunto da Brigada Técnica do Colonato do Limpopo, em Moçambique, cargo que passou a acumular, um ano mais tarde, com o de Prsidente da Comissão Administrativa da Cooperativa Agrícola daquela localidade.
Em Moçambique, ao mesmo tempo que continua a actividade de investigação iniciada em Portugal, agora alargada a temas da História local moçambicana, frequenta cursos, profere palestras, publica trabalhos e mantém uma colaboração assídua na imprensa periódica, tanto metropolitana, como daquela colónia. No campo religiosos, prossegue o trabalho de qapostolado, nomeadamente na difusão do culto gonçalino.
Apesar da distância que o separa de Portugal e que o obriga a visitas espaçadas e curtas à terra natal, lança a ideia de comemorar o 5º Centenário da Freguesia de Moncarapacho, tendo presidido, a partir de Moçambique, com a colaboração no terreno de Antero Nobre, à Comissão Executiva das Comemorações dessa efeméride, realizadas em 1971.
O regresso à terra natal
Regressado a Portugal e à terra natal, já aposentado, depois de mais de uma década em Moçambique, foi eleito Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Moncarapacho, cargo que exerceu entre 1979 e 2000. Nestas funções, impulsionou a criação do Centro de Dia e do Lar da Terceira Idade e, anos depois, a construção das suas novas instalações.
Enquanto Cavaleiro da Ordem de Malta e monárquico, participou em várias iniciativas daquela Ordem e recebeu, em 1997, em Moncarapacho, o Duque de Bragança, D. Duarte.
Cumulativamente, intensifica o trabalho de investigação, publicando novos estudos de História e Arqueologia, na imprensa e em livro, e participa em congressos vários, evidenciando até quase ao fim dos seus dias, aos 95 anos, um dinamismo e vitalidade invejáveis.
Em 1996, foi homenageado pela Santa Casa da Misericórdia, tendo sido atribuído o seu nome a uma rua de Moncarapacho. Em 2001, viu igualmente atribuído o seu nome à Biblioteca da Escola Básica 2/3 Dr. António João Eusébio. Entre outras distinções com que foi agraciado, contam-se o Colar do Instituto de Coimbra, a Medalha de 50 anos de sócio da Casa do Algarve e o Colar de Benemerência da União das Misericórdias Portuguesas.
Em 2004, legou em testamento à Santa Casa da Misericórdia de Moncarapacho, com todo o seu espólio, a casa onde viveu parte importante da sua vida, com o fim de nela ser instalada uma Casa Museu - a Casa-Museu Dr. José Fernandes Mascarenhas - a qual veio a ser inaugurada no dia 23 de Maio de 2009, quatro anos depois do seu falecimento e no decurso das comemorações do centenário do seu nascimento.